Bibliotecas itinerantes

Livre acesso aos livros e à cultura

Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira

O que é uma biblioteca itinerante

A biblioteca móvel ou itinerante é uma extensão da biblioteca pública, que leva através de um meio de transporte – normalmente uma carrinha – às comunidades com menor acesso à cultura um conjunto de livros, filmes, DVDs e outros serviços básicos de informação. Por vezes dirige-se a públicos específicos, como escolas, lares de idosos, prisões ou populações de aldeias isoladas. O principal objetivo é combater o isolamento a que estão vetadas estas pessoas, que vivem fora das grandes cidades e têm difícil acesso aos livros. 

Baseiam-se no conceito de que as bibliotecas móveis são a melhor forma de adaptação às circunstâncias (localização geográfica ou maior ou menor facilidade de mobilidade), e prestam serviços personalizados aos seus utilizadores. Frequentemente, a biblioteca móvel assume-se como um ponto de um serviço que se insere numa rede já existente ou como forma de colmatar possíveis falhas. 

Atualmente existem 76 bibliotecas itinerantes no nosso país, sob a forma de carrinhas equipadas com estantes, bancos-gaveta, mesas dobráveis, computadores, internet Wi-Fi e balcão de atendimento.

História da biblioteca itinerante

Em Portugal, as primeiras experiências de biblioteca itinerante terão acontecido durante a 1ª República, como forma de combate à ignorância, em hospitais, prisões e serviços de leitura nos caminhos-de-ferro. Outra experiência foi levada a cabo em 1942, em Braga, pela mão de Vítor de Sá, historiador, opositor do regime fascista e livreiro. Victor queria colocar ao dispor de todos a sua biblioteca pessoal. Enviava os seus livros pelo correio a leitores carenciados, nas cidades, nas aldeias e em lugares recônditos do país, por um custo simbólico, o que lhe permitia adquirir mais livros e cobrir os portes de correio. Em 1942 o recheio da biblioteca era cerca de 200 livros, mas quando encerrou a atividade, em 1950, já ascendiam a mais de 1500! 

A iniciativa inspirou o escritor Branquinho da Fonseca, Conservador-Bibliotecário do Museu Biblioteca Condes de Castro Guimarães, que em 1953 decidiu fazer circular um carro-biblioteca pelas escolas do concelho de Cascais e pelos lugares mais centrais da vila. Branquinho da Fonseca usava o seu próprio automóvel, com um atrelado improvisado, percorrendo as ruas e estradas do concelho, levando na sua Biblioteca Móvel livros a todos os que não podiam ir às bibliotecas ou não tinham condições financeiras para os comprar.

O projeto teve tanto sucesso que, em 1958, a Fundação Calouste Gulbenkian, através do seu presidente Azeredo Perdigão, criou um Serviço de Bibliotecas Itinerantes. 15 carrinhas Citroën HY levavam os livros e a leitura às vilas e aldeias de todo o País. Branquinho da Fonseca foi convidado para dirigir essa operação sobre rodas, dado o seu conhecimento na matéria. O objetivo era desenvolver o gosto pela leitura e contribuir para elevar o nível cultural dos cidadãos em geral, e das crianças e jovens em particular. O serviço bibliotecário seguia princípios inovadores à época: era um serviço de cariz gratuito que permitia o empréstimo domiciliário (até cinco livros) das obras por um período alargado (mensal), favorecendo a partilha entre os membros da comunidade dos livros requisitados; um aconselhamento personalizado aos utilizadores sobre as leituras que, para eles, mais poderiam ser úteis; e o livre acesso às estantes.

O projeto cresceu e em 1961 já circulavam pelo país fora 47 veículos Citroën com milhares de livros, chegando às seis dezenas de unidades em 1967, fruto de uma progressiva progressão para o interior. O número baixou apenas a partir de 1983 para as 58/59 unidades circulantes. Durante mais de quatro décadas, as Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian levaram a todo o país livros e pessoas que orientavam os leitores em função das suas necessidades e preferências. Papel fundamental também desempenhado por poetas célebres, como Herberto Helder e Alexandre O’Neill. 

A Fundação Calouste Gulbenkian nos anos 70 por questões de ordem financeira ponderou prescindir da sua rede de bibliotecas, que custeava na quase totalidade. No início da década de 90, o investimento foi diminuindo progressivamente até que, em 2002, é extinto o Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas. O balanço é muito positivo: as Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian emprestaram cerca de 97 milhões de livros a quase 29 milhões de leitores, espalhados por 3900 povoações, segundo registos da Fundação.

As bibliotecas móveis no início do século XXI recomeçaram a surgir, agora como um serviço de extensão bibliotecária das bibliotecas municipais. 

A Nave Voadora, onde encontrar as Bibliotecas Itinerantes 

Atualmente há 76 unidades ativas em Portugal (dados de julho 2021), de norte a sul do país. No site Nave Voadora, diretório sobre as Bibliotecas Itinerantes em Portugal, está disponível toda a informação sobre estes serviços, recolhida em diversas fontes como sites de autarquias, bibliotecas públicas e entidades privadas. 

As bibliotecas móveis encontram-se por todo o país, embora com maior incidência no litoral/interior norte e no litoral centro de Portugal continental, sobretudo em áreas rurais. Com uma menor uma implantação, encontram-se bibliotecas móveis na área da Grande Lisboa, Alentejo e Algarve. Estes serviços ligados às bibliotecas do concelho, servem maioritariamente zonas rurais ou então áreas mais povoadas de cariz urbano, afastadas das bibliotecas fixas. 

Exemplos de bibliotecas sobre rodas

Alguns exemplos de bibliotecas móveis que servem diferentes públicos, mas sempre com o mesmo objetivo: proporcionar momentos de leitura e promover a cultura.

A Fundação Calouste Gulbenkian, em nome do Fundo de Apoio às Populações e à Revitalização das Áreas Afetadas pelos Incêndios, entregou ao Município da Sertã uma carrinha totalmente adaptada aos serviços de biblioteca, que começou a percorrer o concelho em março de 2019. Nesta biblioteca móvel é possível consultar livros e revistas, fazer rastreios de tensão arterial, glicínias e colesterol, preencher e entregar formulários e requerimentos de serviços nas áreas da ação social, educação, proteção civil e saneamento, aceder à Internet, fazer fotocópias e pagamentos num ATM portátil.

Além dos serviços tradicionais de biblioteca, a Bibliomóvel de Proença-a-Nova disponibiliza outros serviços, com grande impacto junto de uma comunidade rural, com uma população envelhecida e pouco alfabetizada.  Os utilizadores podem requisitar livros, consultar documentos através da Internet e imprimi-los, utilizar plataformas de videoconferência, pagar serviços, aceder à área dos serviços online ao cidadão ou mesmo cuidados básicos de saúde. Os 15 anos de trabalho desenvolvido pela Bibliomóvel, na pessoa de Nuno Marçal, vão ser transformados em livro, recuperando a recolha que tem sido realizada pelo bibliotecário no blog “O Papalagui”.

Chama-se Leitura em Linhas, numa alusão às linhas de produção fabris. A biblioteca móvel vai estacionar regularmente à porta das fábricas do concelho. Para além da requisição de livros, músicas e filmes, a biblioteca itinerante oferece ainda acesso à internet e a possibilidade de fazer pagamentos digitais. O projeto abrange cerca de dez mil trabalhadores de 11 fábricas localizadas em Santa Maria da Feira.

Nesta biblioteca móvel é possível também a leitura de livros, periódicos e acesso à internet. O objetivo é desenvolver o gosto pela leitura junto dos mais jovens, num circuito, que tem passado por Parques, Jardins e Praias do concelho de Cascais. Ao longo de três anos de existência a Biblioteca Móvel de Cascais registou cerca de 400 leitores, foi visitada por 3500 utilizadores, e do seu acervo, aproximadamente 75% das obras requisitadas são de cariz infanto-juvenil.

Viagem pelo país do jornalista João Ferreira Oliveira, pelo interior, com uma bibliocarrinha. Este verão serão realizadas sessões de leitura ao ar livre, nas escolas, no centro das aldeias, no meio da rua, onde houver público e vontade de ouvir uma história. João leva quase 500 títulos, muitos deles doados por diversas editoras portuguesas e pela Citroën, icónica marca das carrinhas das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian.


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